quarta-feira, 8 de junho de 2011

A experiência de quem correu os 89km da Comrades





Uma das ultramaratonas mais famosas do mundo tem nome e endereço certo: Comrades, África do Sul. São 89 quilômetros no total. A gente acha que isso é coisa para poucos, mas este ano foram 19 mil participantes, vários deles brasileiros. Quem conta como foi correr a prova no texto abaixo, bastante divertido, aliás, é o amador Rodrigo Vilalba, de 35 anos. O texto foi mandado por email para os amigos, pouco depois da empreitada:

"Caras, vocês sabem como é importante pra mim tentar orientar a minha vida a partir de certos valores, né? Por exemplo, eu tenho aquele slogan 'valorize a civilização, mas deconfie', que quer dizer mais ou menos 'esteja fisicamente e mentalmente preparado pra qualquer coisa, aprecie a cultura e as coisas boas, mas se a água bater na canela, saiba pra que lado remar'. Então, é justamente por isso que acho que me tornei um ultramaratonista. Esses desafios de superação, essa coisa do 'estar pronto pra qualquer parada' me anima, é realmente a minha droga preferida. Daí, de repente, percebo que tem 19 mil outros caras que pensam exatamente como eu e que existe um evento feito para essas pessoas e um país que é completamente louco por esse evento e que se mobiliza para planeja-lo e realiza-lo.

Então eu tenho a sorte de estar lá, junto com os outros 19 mil malucos, nesse evento, nesse país, e é como voltar pra casa, é como se encontrar com uma espécie de família perdida, de quem você tinha se exilado antes de nascer, é um reencontro, é uma festa. A madrugada fria em Durban logo vira uma manhã iluminada. A rodovia fica para trás e os gritos, felicitações entusiasmadas e o carisma de brancos, zulus e gente de todas as cores servem de combustível para cada passo. Depois de 80 quilômetros  de corrida, no topo da Polly Shorts, a pior subida da prova inteira, eu avistei o estádio onde fica a chegada da prova, e chorei como uma criança. Aí chorei de novo, ao entrar no estádio, cercado por milhares de irmãos humanos, e não parei mais. Passei a linha de chegada, colocaram a medalha no meu peito, eu fui para a zona de dispersão, deitei no gramado, sobre a bandeira do Brasil que um amigo me passou quando cheguei, deitei em posição fetal, cheio de dores nas pernas, e não levantei até agora.

Eu ainda estou lá no estádio. Eu não sou mais o mesmo. Eu sou um Comrade. A brisa fria da tarde sopra em Pietermaritzburg. Logo será noite."

 Comentários | »

    Shigueo
    09/06/2011 20h40 Parabéns pela conclusão do Rodrigo. Não me imagino fazendo uma prova dessas mas até o ano passado tb não me imaginava fazendo uma maratona, entonces... É um vicio que parece não ter limites. Mas é um vício bão demais da conta!

Nenhum comentário:

Postar um comentário