segunda-feira, 16 de maio de 2011

O trágico (e triste) fim do recordista olímpico de maratonas


Samuel Wanjiru (November 10, 1986 - May 15, 2011)
5K: 13'12''40; 2005, Hiroshima
10K: 26'41''75; 2005, Bruxelas
Meia-maratona: 58'33''; 2007, Den Haag
Maratona: 2h05'10''; 2009, Londres

Vários dos meus 17 anos de jornalismo foram dedicados ao mundo da cultura e, consequentemente, das celebridades (ou pseudo) que o cercam. Já perdi a conta de quantas matérias já escrevi sobre atores e cantores que chegam à fama cedo demais e, deslumbrados, não sabem lidar com ela. Pior, muitos deles veem a tal fama ir embora na mesma rapidez com que veio -- e aí perdem o chão de vez.

Já não cubro esta área há um tempo. Mas hoje de manhã uma triste notícia do mundo da corrida me fez pensar nesse assunto novamente. O queniano Samuel Wanjiru, vencedor da maratona olímpica em Pequim 2008 com o recorde olímpico, morreu ontem à noite. Ele tinha apenas 24 anos.

Ainda não se sabe ao certo o que aconteceu. Segundo a polícia, ele estava em casa com uma suposta amante quando a mulher chegou e o pegou em flagrante. Houve uma briga e não se sabe se, em seguida, ele se jogou ou apenas caiu da sacada do apartamento. Se foi suicídio ou acidente, que diferença faz? Para a polícia queniana talvez faça, claro. Mas para mim, que vi maravilhada, sentadinha no sofá de casa, esse moço cruzar a linha de chegada na Maratona de Pequim, em 2008, isso pouco importa.

O correspondente da rede BBC no Quênia entrevistou vários amigos do corredor e eles são quase unânimes: acham que a vida de Wanjiru nunca mais foi a mesma depois daquela maratona olímpica que tanto me maravilhou. Como tantas celebridades que acompanhei, Wanjiru não estava preparado para todo o sucesso e dinheiro de prêmios que vieram a seguir. Ele foi o primeiro queniano a vencer uma maratona olímpica. Foi também o vencedor mais jovem de uma maratona olímpica. Já tinha prometido quebrar um recorde maior ainda: baixar a marca das 2 horas em maratona. Não deu tempo.

Meu treinador, o Claudio Castilho, também treinador do Clube Pinheiros, esteve em Pequim com o maratonista José Teles (o único brasileiro a completar a maratona naquela olimpíada, aliás). Pedi para ele escrever sobre o Wanjiru aqui para o Corre-Corre. E ele confirma a minha impressão, ao ouvir a notícia: de que há muito preparo e cobrança quanto ao rendimento do atleta, mas poucas lições para esses jovens saberem como lidar com todo o resto que vem nesse mesmo pacote. 

"Tive a felicidade de estar presente nos Jogos Olímpicos de Pequim integrando a Seleção Brasileira e acompanhando o atleta brasileiro José Teles de Sousa e pude presenciar o assombro que o jovem talento do atletismo africano causou quando venceu a maratona Olímpica. Ele não só bateu o recorde como o pulverizou, baixando em mais de 3 minutos o antigo recorde do português Carlos Lopes, que já durava bastante tempo. O feito foi mais impressionante pelas condições climáticas daquele dia na cidade de Pequim, muito calor e uma umidade bastante elevada, condições que assustaram até mesmo nomes famosos e atletas experientes como o marroquino Jauod Garib, o etíope Deriba Merg, entre outros. Ele simplesmente desprezou o óbvio é imprimiu um ritmo alucinante desde o início da competição, fazendo cair um a um seus principais oponentes, entre eles excelentes atletas como os brasileiros Franck Caldeira e Marilson Gomes dos Santos.

O talento dele ficou comprovado após ter vencido as maiores e mais famosas maratonas do mundo, inclusive se tornando campeão do circuito das Marathons Majors, realizando isso por duas vezes consecutivas. O fato ocorrido ontem coloca novamente em discussão uma importante constatação do esporte de alto rendimento: jovens atletas talentosos não têm o mínimo equilíbrio emocional e preparo para lidar com a fama e o dinheiro que chega junto com as conquistas. Não é o primeiro caso e creio não será o último. Julgo que a preparação a longo prazo deve conter no planejamento também questões desta ordem, auxiliando o atleta na formação global, e não só nos aspectos do rendimento físico e comercial."

Comentários | »

    Shigueo
    10/06/2011 18h52 Será que ele tinha um agente/manager? Realmente faltou retaguarda pra lidar com todo esse sucesso. Depois de ver o vìdeo do bafafá no enterro dele, tenha a impressão que ele tb não convivia em um ambiente familiar saudável. Uma pena, um grande talento desperdiçado. Que descanse em paz.

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