segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Correr na Marginal: a vingança



Na sexta-feira saí do jornal, na Rodovia Anhanguera, e precisava ir à casa de uns amigos, no Morumbi. Depois de dez horas de trabalho, não há nada mais intragável para quem vive nesta metrópole do que ser obrigada a encarar a Marginal Pinheiros. E numa sexta-feira. E às 19h. Pois ali, presa naquele mar de luzinhas vermelhas, entre uma passagem da primeira para a segunda marcha e outra, o pensamento veio à minha cabeça: "se eu estivesse com o meu par de tênis era capaz de ir mais rápido do que isso, é patético". Tá, coloque aí uma licença poética de corredora: me orgulho muito de minhas pernocas, mas elas estão longe de ser mais rápidas do que as quatro rodas do meu carro, mesmo elas girando a trinta quilômetros por hora.

Pois ontem tive o prazer de me vingar da Marginal Pinheiros, na Meia Maratona Golden Four, da Asics. Toda vez que faço uma prova com percurso que passa pela Marginal algo estranho toma conta de mim, juro. É um prazer difícil de descrever, uma espécie de sorrisinho silencioso que cisma em aparecer, uma sensação de vingança por todos os dias que fiquei presa ali, dentro do meu carro, entre tanta gente estressada (eu incluída) que preferia estar em qualquer outro lugar. Ontem cheguei até a comentar isso com a Andrea Longhi, gerente de marketing da Asics e minha companheira do longão de 28k da semana passada, que ia ali ao meu lado. Correr na Marginal é algo sublime. Asfalto de primeira, pista larga, espaço de sobra para todo mundo, árvores que nos dias da batalha do trânsito a gente nunca enxerga (há muitas, acreditem!!), bela ponte (a estaiada, de onde largamos), belos prédios. E, como no geral as provas são aos domingos e cedo, mesmo as pistas liberadas para os carros ainda estão meio vazias, então parece que estamos numa Marginal fantasma, só nossa. Ela vira, pelo menos por aqueles poucos minutos, e de uma maneira tão diferente, um tapetão para um mar de tênis, suor e gente feliz por estar ali.

Comentários | »

    Luciano Figueira
    08/08/2011 21h26 Também achei sensacional ter esta sensação de por breves instantes vencer o caos urbano. E vamos correr! Abs, Luciano Figueira
    dea
    08/08/2011 21h00 sexta-feira, antes desse domingo de 21K, descubro já meio tarde 14K pra uma planilha que mira Berlin, 18hs, saio pro Ibira pensando como vai ser duro rodar os 14 ali dentro... de repente plin e faço o caminho inusitado do Ibira pro parque do Povo via JK, onde descubro a mesma sensação tua do domingo q estava por vir: a vingança. me sentia uma gazela invisível e feliz ultrapassando carros enjaulados no trânsito daquele final de sexta-feira... olhares de inveja dos motoristas incrédulos com minha velocidade... e eu pensando: ei, sou uma corredora, larga tudo e vem aqui q é mais rápido e nossas pernas melhores q seus pneus
    Renata M. Domingos
    08/08/2011 18h31 Delícia de texto! E bom cumprimento de meta em Amsterdã. Beijos.

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