segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Bom demais ter um treinador que vale ouro



Ontem a noite foi gloriosa. Foi gloriosa para Adriana Aparecida da Silva, que dormiu com o ouro da Maratona Feminina do Pan de Guadalajara no peito (certeza que ela não tirou a bichinha no peito, eu não tiraria), com direito a quebra de recorde. Foi gloriosa para Claudio Castilho, o treinador da moça (certeza que caiu alguma lágrima dos olhos do tio Castilho ontem, certeza!). Foi gloriosa para mim. E para o Blois, a Landi, a Dora e o Xico, a Silmara, o Leandro, o Taibo, o Robertinho, o Mauro, o Danilo, o Relva, as Maris, os Stersi, o Osvaldinho, a Gabi, a Catani, a Longhi, o Ibere, o Frotinha, o Hirsch, os Tuma, a Re Moretti... Ficaria aqui até amanhã citando nomes, porque quem é corredor certamente ontem também dormiu com aquela medalha de ouro da Adriana no peito.
A corrida dela foi perfeita. Mostrou maturidade no começo da prova, ao não apertar o ritmo para tentar seguir a mexicana Perez. Mostrou foco ao manter seu pace feito um reloginho. Mostrou concentração ao não olhar para trás depois da ultrapassagem sensacional no km 39. Mostrou garra, disciplina. Mostrou talento. Mas foi quando Adriana mostrou seu agradecimento que eu realmente me emocionei. Vibrei quando ela cruzou a linha, claro, mas desabei de chorar quando a imagem mostrou a atleta em busca de seu técnico, ali na grade, para dividir com ele aquela vitória. O abraço de Adriana era também o meu abraço no mestre Castilho.

Claudio Castilho é meu treinador há cinco anos. Com ele fiz minha estreia nas provas de 10K, nas Meias Maratonas, nas Maratonas. Com ele voltei a treinar depois de seis meses parada por uma lesão por stress ("Caminhar é chato, Apa, mas necessário nesta volta"). Com ele encarei o desafio dos 600K um mês depois da maratona de Berlim, com direito a recorde pessoal na Meia de Buenos Aires, entre as duas provas ("Dá para fazer, Apa, é só treinar"). Com ele venci a Re Bordosa que tomou conta do meu ser depois da Maratona de Chicago, ano passado ("E aí, desistiu de vez? A fase de descanso já acabou, neguinha!"). Com ele reencontrei, ainda que atrasada, o espírito de maratonista nos treinos deste ano, num período turbulento de excesso de trabalho no jornal ("O treino foi bom hoje, Apa, mas quando você vai virar maratonista de verdade, hein? A performance está boa, porque o corpo tem memória, mas corredor sem rotina não é maratonista, não. Acorda enquanto é tempo!").



Quem treina com o tio Castilho sabe: a frase de Che cai como uma luva. Hay que endurecer pero sin perder la ternura. O mestre é duro, sim, porque treinador que não é duro vira babá. Cobra disciplina no treino. Cobra determinação e foco. Certamente é assim porque não trabalha só com os amadores da turma da Saúde & Performance. Mas ele também sabe afagar. Do jeito dele, sem melação. O elogio do Claudio vem sempre em forma de reconhecimento. "Viu como treinar bem dá resultado?", ele diz, quando deve dizer. Ter um treinador assim, que não rasga elogio à toa, para mim traz segurança. O Claudio nos ensina diariamente que em corridas não há milagres, nem predestinação. Corrida é colher frutos do que se planta.
O bacana do Claudio é que, mesmo com seu lado general da banda, ele sempre acredita no plantio, está sempre pronto para preparar a terra. Este ano, já contei aqui no blog, eu estava inscrita para a maratona de Amsterdã. Planinha planinha. A dois meses da prova, pinta uma inscrição para Nova York, a maratona das maratonas. Mas cheia de pontes, de subidas e descidas. A primeira coisa que me veio à cabeça quando recebi o convite: preciso perguntar o que meu treinador acha. Primeira coisa que meu treinador disse quando perguntei o que ele achava: "nem pensa, aceite já! Depois a gente corre atrás e muda as planilhas". Algumas semanas depois ele veio me explicar: "só incentivei você a aceitar Nova York porque te conheço, Apa, e porque você já estava bem treinada para Amsterdã".

Ontem de manhã, conversando com um amigo, falei que estava ansiosa para ver a maratona feminina do Pan e ele comentou: "Ah, não consigo achar legal ver maratona pela TV. Gosto de correr, mas assistir é chato". Ele corre há bem menos tempo que eu. Talvez faça diferença o tempo e os meus quilômetros a mais. Ver uma prova pela TV, para mim, não é acompanhar a performance do cara de elite ali na telinha. É relembrar cada manhã que acordei às seis, as duras passagens pelo km 30 numa maratona, cada cruzada de linha, cada dor em cada cantinho do pé, as unhas roxas, as broncas e os incentivos do treinador. Ontem, especialmente, os passos daquela corredora de parcos 44 quilos (o peso de uma perna minha!) e  pace assustador de 3'40/km tiveram um gostinho especial. Aquela corredora era eu, correndo para o abraço do tio Castilho.

ps: Tudo o que escrevi aqui sobre meu treinador Castilho vale também para o querido Leandro. A agenda apertada de elite do Claudio faz com que muitas vezes ele esteja longe de seus amadores. O Leandro segura a onda, com classe e disciplina. O ouro é seu também, viu, Lê?

11 comentários:

  1. Amei!!! Amei acompanhar o ouro da Adriana! Amei ser citada como uma das pessoas pra quem a vitória foi gloriosa! Amei a homenagem!
    Particularmente, tenho uma relação bem diferente com meu treinador, pois treino a distância. Corro há dois anos e meio e tenho treinador há quase 2 anos. É pouco tempo, mas o suficiente pra encher o peito pra falar dele e de toda a equipe /família Run&Fun!
    Eu sou muito ligada no 220v... se deixar, abraço o mundo... não sou uma corredora de performance.. aliás, bem longe disso.. sou a tartaruguinha da turma, sempre (tá certo que eu só treino com homens na grande maioria das vezes, mas sempre sou a turma do fundão). E é nessa minha inquietude que entra o Daniel... me fazendo lembrar que descanso também é treino, me fazendo pensar que com paciência e disciplina eu posso chegar onde em quiser, me cobrando feedback de treinos, me perguntando como está a recuperação de uma lesão, me mostrando um carinho enorme, sempre!
    E ouso dizer que ele também é um treinador de ouro! Afinal de contas, esse ano a Equipe Imprensa foi liderada por ele na Nike Sp-Rio e pela primeira vez abandonou a lanterna da competição!

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  2. Apa, fiquei emocionado de novo ao ler seu post. A imagem da Adriana abraçando o Cláudio foi muito bonita.
    É muito bom ver pessoas queridas colhendo o fruto do trabalho, assim como ele nos ensina a cada treino. Apesar de não ser mais da S&P, continuo me colocando no "time dos alunos" porque ainda aprendo muito com ele.
    Acertou na mosca! Dormi sim com a medalha da Adriana no peito!
    Foi demais! Seu texto é emocionante!
    Beijo
    PS: na torcida em NY!!!!

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  3. Não há palavras para expressar o sentimento de ontem, assim como a Apa ontem eu era apenas mais um em meio a uma multidão de pessoas que estavam torcendo pela Adriana a cada passagem e uma vibração diferente, quando me vi estava em frente do computador gritando "vai pra cima!!!" e passando instruções como se ela fosse me ouvir rss...acho que todos os alunos da Assessoria Saúde e Performance devem estar com uma felicidade sem fim, e este humilde e esforçado professor a partir de ontem tem uma missão ainda mais dificil: substituir um treinador de ouro mesmo eu sendo de latão rss... PARABENS ADRIANA "GODINHA RSSS",e parabéns meu treinador, mestre, conselheiro e amigo Claudio Castilho.

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  4. Jussara, estou com uma foto do Daniel na manga para um post fresquinho. Sem dúvida ele é ouro também. Lê, você vai tirar de letra... Blois, é nóis, ex ou atuais, todos família S&P.

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  5. Apa, parabéns pelo seu post como sempre muito bem escrito e pelos detalhes pessoais que você mencionou, que também pude acompanhar de perto. Tive a felicidade de acompanhar desde o início toda esta trajetória dura, difícil, sofrida, de muita dedicação do nosso amigo, conselheiro, professor, "personal trainer" Cláudio Castinho. Todos nós corredores amadores da Saúde & Performance, sempre em busca de quebra de records pessoais tinhamos certeza que toda esta dedicação seria reconhecida e premiada um dia e aí está o resultado.Sou privilegiado por ser um dos primeiros alunos da Saúde & Performance, quando tudo começou com 5 pessoas treinando de manhã em frente da Escola de Educação Física da USP: Eu, Blois, Robertinho, Melina e o Bento e continuar fiel até hoje. Sou sim um dos "velhinhos" da S&P e estar a quase 13 anos treinando sob a orientação do Claudio Castilho e outros excelentes treinadores-seguidores da "filosofia" dele como Leandro Castro e outros só aumenta o meu orgulho. Como já havia mencionado no Blog do Blois, "se hoje estou no 'clube dos maratonistas' e tenho disposição para acordar e treinar as 06:30 horas da manhã, a culpa é toda do Castilho e seus demais treinadores".
    Parabéns para nossa referência que foi a Adriana Aparecida da Silva e ao nosso "coach" e amigo Cláudio Castilho pela excelente conquista do Ouro no PAN. Que venham muitas outras medalhas de Ouro! Como já foi dito aqui, todos nós da Saúde & Performance estamos orgulhosos e temos o sentimento de que esta medalha de Ouro é um pouquinho nossa também.
    Osvaldinho - aluno-sócio-fundador Nº 05

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  6. Se precisar de elogios rasgados no post do Dani, pode contar com a minha ajuda! rsrsrsrs

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  7. Apa, a noite de ontem vai ser inesquecível. Eu não tenho nem de perto os km que vocês tem. A primeira vez que falei com o Cláudio Castilho foi pelo telefone e perguntei: "eu tenho que fazer exercício, mas não gosto de correr, posso só caminhar?" Ele disse: "pode, claro". Só que o Leandro e ele, aos poucos, foram me mostrando que correr era muito bom ! E ontem eu e o Xico assistimos a Adriana correr os 42km. Assistiria mais 42. Foi maravilhoso. Ela realmente foi uma corredora brilhante, você disse tudo. O Cláudio Castilho me trouxe mais do que amor pela corrida e por um esporte (eu nunca gostei de fazer nada, absolutamente nada). Ele me apresentou uma assessoria séria, competente, profissional. E nessa assessoria, tive o grande prazer de conhecer pessoas incríveis, que hoje são grandes amigos e que dividem comigo e com o Xico não só a corrida, mas viagens, jantares, churrascos, vinhos... A Adriana, então, um amor de pessoa. Fala comigo de "igual para igual", mesmo sendo uma ATLETA de verdade e eu... uma pequena corredora. A emoção de vê-la correndo enquanto nós dividíamos pelo Facebook cada minuto vai ficar na minha memória para sempre. Nem preciso dizer o quanto chorei, eu choro mesmo. Mas o Xico? Ele é duro na queda. E ontem ele ficou com os olhos cheios de lágrimas, não deu para segurar. Valeu, pessoal, agora é esperar pela volta dos dois, pois quero dar um abraço bem forte neles.

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  8. Post muito massa. A corrida foi emocionante. Antes eu não via graça em ver a corrida pela tv. Gostava só de correr. Passou o tempo e agora acordo cedo pra assistir. Descobri que sou viciado nisso. Mais por correr, mas quando não dá pra participar, ver já serve.

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  9. Apa, não assiti a corrida mas nas suas palavras pude sentir cada km dessa maratona como se eu é que estivesse participando e chegando ao pódio. Parabéns por todas essas palavras escritas, pois foram escritas de uma maneira que empolgou até esse simples leitor dos seus blogs. Parabéns Adriana, parabéns meu amigo Claudio (Negão) Castilho por mais essa conquista e por mais esse degrau que você galga na sua brilhante trajetória e carreira que eu admiro tanto. Parabéns a todos do clube Pinheiros e da S&P também que com certeza se sentem orgulhosos de seus amigos e companheiros de treinos que hoje são OURO.

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  10. Apa!!! Adorei!!!
    Eu estou correndo a bem pouco tempo e não sei se algum dia serei capaz de realizar uma Maratona!
    Mas esse abraço com certeza foi marcante!!Incrível!!Eu fiquei muito emocionada!!!
    Temos o desejo de dividir a nossa alegria depois de uma conquista tão grande e desafiadora!!
    Ela realizou uma corrida brilhante, fiquei com o coração na boca o tempo todo, achei que iria ter um treco!!!
    Seu post, está incrível é emocionante "escutar" suas palavras!!
    Parabéns paras todos nós!!
    Somos ouro!!!
    Beijos!!

    Silmara Robiati Giglio Castilho

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  11. Apa,
    Os últimos dias foram sensacionais, vivi momentos que todo treinador busca de forma incansável por anos e anos. Infelizmente muitos encerram a carreira sem ter este privilégio.
    A Conquista da medalha proporcionou situações e acontecimentos que vão muito além do que podemos imaginar. Aprendi com meu primeiro treinador, prof. Rabaça, que inclusive integra a delegação brasileira no PAN de Guadalajara e que tive o prazer de comemorar a conquista, que só a disciplina e muito trabalho são capazes de levar a vitória e é isso que absorvi e reforcei com outros mestres que tive o prazer de trabalhar na minha carreira singela de atleta, essa é a crença que tento levar a vocês e aos professores que tenho a responsabilidade de orientar.
    Quando recebo uma homenagem como esta que postou e demonstrou desde a primeira mensagem enviada, só posso agradecer com um muito obrigado do fundo do meu coração. Aproveito para estender este agradecimento a todos da S&P que também enviaram mensagens de carinho e quero deixar registrado aqui um agradecimento especial aos alunos que começaram comigo toda esta jornada mantendo-se fieis em todos os momentos.
    A missão continua e agora sei que tenho muito mais trabalho pela frente, isso não me assusta, pelo contrário, não vejo a hora de recomeçar os treinos com os atletas profissionais e com vocês ...afinal temos atletas que irão representar a S&P na mais famosa maratona do mundo (NY), não é?
    Tô chegando de volta...rs

    Obrigado,

    Cláudio Castilho

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