terça-feira, 25 de outubro de 2011

Corredor é (quase) tudo igual, só muda de endereço (e de pace)



Foram três dias na estrada, acompanhando a corrida Nike SP-RJ aquela prova maluca que parte do Ibirapuera e chega em Ipanema, depois de muito suor e gelo. Participei da primeira edição, na equipe Imprensa, mas nesta terceira edição fui só para acompanhar e escrever uma matéria depois (sairá na Audi Magazine, aviso aqui quando for publicada). É incrível como ficar ali, de mera espectadora, é uma experiência absolutamente diferente. Também emocionante. Também cansativa. Mas diferente. Tive tempo para observar. E observar. E observar.

Conheci a iniciante carioca Juliana que, com seus poucos 18 anos e apenas quatro meses de corrida no currículo, entrou de gaiata numa prova que não perdoa pouca experiência. Ouvi as aventuras do ultramaratonista Jaime Rocha, que contabiliza, por alto, cerca de 91 mil quilômetros rodados com as próprias pernas. Vi de perto a paixão nos olhos de meninos de 20 e poucos anos que sentaram a bota feito gente grande, paces de 3'30 a 3'50 o quilômetro. Tive o privilégio de correr 5.7km na companhia de Franck Caldeira e Vanderlei Cordeiro, profissionais dos bons.

A grande conclusão que eu tiro dessa jornada: corredor é quase tudo igual, só muda de endereço. E, claro, de pace. Listo abaixo cinco coisas que eu vi na Juliana, no Jaime, nos meninos de 20 e poucos, nos caras de elite. Veja se você também não se identifica:

1 - Pé, panturrilha, quadriceps, posterior, quadril... Alguma parte do seu corpo, especialmente da cintura para baixo, em algum momento vai doer.



2 - Atire a primeira pedra quem nunca, mesmo do alto de toda sua experiência, sentou a bota além do limite. Arrisco dizer que todo corredor um dia na vida já quebrou. Se não quebrou, ainda vai quebrar. E, quer saber? É quebrando que se aprende.

3 - Gelo é a parte dura do negócio. Muito dura. Varredura é ruim, mas a coisa aperta mesmo é nos baldões. Tem de ser valente para encarar. Mas corredor sabe, ou um dia vai saber: o gelo é um dos nossos maiores aliados. Todos nós passaremos por ele.



4 - Dói, a gente quebra, precisa de gelo, mas é bom para caramba. O sorriso no rosto (às vezes até mesmo junto com a careta de esforço, por que não?), a garra estampada no corpo, a determinação, a satisfação. Não importa quando, no começo, no meio ou ao cruzar a linha de chegada, uma hora a endorfina dá o ar de toda a sua graça.



5 - Ah, as lágrimas... Corredor que sua a camisa também chora. Muita gente se entregou a elas, em momentos diferentes. Mesmo eu, que só acompanhei, virei manteiga derretida na chegada, vendo aquela galera toda cruzar a linha feliz, emocionada, depois de vencer os 600km do percurso. Olhei para o lado e ali, discreto, olhos encharcados mas contidos, vejo o Daniel Neves, treinador da equipe Imprensa (e da assessoria Run & Fun). Certamente ele estava feliz de ver os pupilos comemorando a saída da lanterninha dos anos anteriores (a Imprensa nesta edição ficou em penúltimo lugar). Mas posso colocar minhas duas mãos no fogo e garantir que não era por causa de colocação na prova -- última, penúltima, primeira, tanto faz -- que Daniel chorou. Quer entender as lágrimas do Daniel? Então calce um par de tênis, rapaz. Comece a correr. Prometo que uma hora você vai entender, e sem precisar correr atrás (ops) dos porquês.

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