segunda-feira, 23 de maio de 2011

A dureza de correr uma ultramaratona de 56 quilômetros



A coisa é assim: quem não corre nada acha que é incapaz de correr 5 quilômetros. Quem já corre 5 acha loucura correr 10. Quem cruza a linha dos 10 não se vê numa Meia. E poa í vai... Eu, que já corri maratonas (e comecei lá na outra pontinha, achando os 5km um sonho distante, vejam bem!), enxergo os ultramaratonistas como seres de outro planeta. Para quem não sabe, ultramaratona é toda prova de corrida que tenha como percurso mais do que os 42km 195 metros de uma maratona. Uma das mais famosas do mundo é a Comrades, na África do Sul, que rola no próximo domingo, aliás. Os malucos enfrentam nada menos do que 89 quilômetros.

Na semana passada li no site da assessoria esportiva onde treino, a Saúde & Performance, o relato do Rech, um colega que faz parte da turma dos doidos que encaram o monstro da ultra. Ele correu no fim de abril a Two Oceans, também na África do Sul, mais especificamente na Cidade do Cabo. São 56 quilômetros que, como o nome sugere, passam por dois oceanos, o Índico e o Atlântico. Ele cruzou a linha no ótimo tempo de 5h20min17seg. Achei tão legal que reproduzo o texto aqui.

"Num passado não muito distante, quando correr para mim era fazer uma prova de 10km, ouvi falar de uma competição conhecida como Two Oceans. Na época, um colega de trabalho do RJ faria, e então, de curioso, resolvi ver do que se tratava... Ultra-maratona, 56km, dois oceanos e muitas, muitas subidas e descidas... Pensei comigo... Essa é para mim!

Após aceito o desafio, algumas questões a tratar... Como, com quem e para quando me preparar...

Como sabemos, nada na vida é por acaso... Correr não poderia ser diferente. Cada passo, cada treino, cada corrida, sempre um aprendizado, um crescimento.

Para esta prova foram 2 anos de treinamento, 3 maratonas, 1 super maratona (50km) e muita, muita persistência, determinação, treinamentos, conversas com o treinador Claudio Castilho, enfim, um projeto com muitas fases e prazos a serem cumpridos, e felizmente todos realizados.

Algumas das expressões mais ditas por Castilho foram: 'Cada treino é como um tijolo colocado na edificação que estás a construir, faça bem feito, para que quando da tormenta, esteja sólida', 'concentração e foco', 'velocidade cruzeiro' (no inicio me perguntava o que era, agora...).

Bueno, vamos à prova então...

A organização foi excelente, apoio total  em todas as etapas (desde a inscrição atá o almoço pós-prova), tanto dos organizadores  como da população. A exposição/feira foi grande, rica em material e variedade.

A prova largou às 6:25, com cerca de 8mil corredores, saímos como um bloco único, energia pura, sincronizada... Imaginem um coração batendo forte, tuntum-tuntum... Olhares destemidos, compartilhados com estranhos e ao mesmo tempo com corredores iguais a você... A temperatura fora estava baixa, algo em torno de 7.c, mas dentro do bloco... Caldeirão... 30.c.... E assim permaneceu por 4 a 5km... Com todos correndo juntos... Somente após o 6km o bloco soltou e cada um passou a fazer sua corrida...

Emocionante estar no meio de corredores tão diversificados... Jovens, velhos, africanos, europeus, asiáticos, americanos, latinos, enfim, havia representantes de 77 países, e cada participante levava um brilho no olhar, uma energia e um respeito pelo corredor ao lado.

A medida que a prova avançava, uma nova paisagem e terreno surgia... Correr ao lado do mar, com o colorido das casas numa área, seguido por campos e logo a seguir a primeira subida... Depois outra, outra e mais outra... Seguido sempre das respectivas descidas... Costeamos inicialmente o Índico, para depois encontrarmos o Atlântico.

Importante comentar que praticamente a cada km havia postos de apoio e entre eles, muitas vezes, pessoas sentadas aguardando os corredores passarem para desejar sorte. É fantástico o respeito e o carinho que o povo tem com os corredores, a valorização e a motivação transmitida garantiram a todos os participantes um gás a mais em cada subida.

Detalhe importante da prova: por ter um número elevado de corredores, em pouquíssimos momentos se corre só, muito embora cada corredor o faça no seu mundo, na sua concentração, no seu íntimo... E neste aspecto as energias se fundem, e faz com que elas de uma forma única impulsionem todos para o mesmo objetivo que o trouxeram ate aqui, vencer a prova (desafio) e mostrar para si mesmo que tudo é possível, quando encaramos com seriedade, motivação e determinação. Pois bem, após uma incansável quantidade de subidas, chega-se à última... Depois uma descida, curva para a esquerda, entrada num gramado, mais uma curva (direita) e reta final de chegada, com a multidão apoiando todos que ali chegam! Ao termino, os corredores se cumprimentam com a sensação da missão concluída, e com um olhar diferente do inicial. Agora é "SIM, NOS FIZEMOS!!!!".

Próximo desafio? Cruce de los Andes - FEV 2012 (equipe de revezamento - 12 atletas/12 maratonas - 01 por atleta, variando altitude)? Quem se habilita? (Castilho esta recrutando...)"

Comentários | »

    Shigueo
    10/06/2011 18h45 Faltou uma foto para ilustrar. Realmente deve ser muito bonito o percurso. Mas não é pra mim (por enquanto). Mas tiro o meu chapeu pra essa crescente legião de ultramaratonistas. Esse pessoal tem vários parafusos a menos!
    Sandra
    24/05/2011 15h44 Nossa, o cenário deve ser lindo.
    Cátia Akisino
    24/05/2011 11h01 Apa. obrigada por compartilhar que no começo os 5k era um sonho distante para você. Eu, que te admiro, fico confortada em saber que posso um dia também correr uma maratona, já que aparentemente esse não é um sonho distante só para mim. Adorei o relato da two oceans, muito bom. Bons treinos para Amsterdã.

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