quarta-feira, 20 de abril de 2011

Uma corrida histórica com 37 graus na moleira!



Berlim, setembro de 2009. Chicago, outubro de 2010. Escolhi minhas duas maratonas mais recentes levando em conta vários fatores, entre eles a temperatura. Hemisfério Norte nesta época do ano costuma ser uma delícia para quem corre, termômetros cravados nos baixos graus do outono. Dei azar. São Pedro pregou uma peça e, tanto em Berlim quanto em Chicago, os relógios apontaram cerca de 26 graus, com Sol forte batendo o tempo todo. Zebras não são privilégio do futebol, acontecem também na corrida... No último domingo fiz mais uma prova com calor -- um calor, diga-se de passagem, muito maior do que o que enfrentei em Berlim e Chicago. A temperatura chegou a 37 graus, sem um segundinho de sombra sequer. Como bem disse um colega jornalista, ir disputar uma corrida em abril, no Rio de Janeiro, e voltar reclamando do calor é no mínimo ridículo. É claro que todos nós, inscritos na Corrida da Ponte, esperávamos altas temperaturas. Desta vez não foi azar, foi obviedade. Mas o óbvio também pode ser duro, e muito duro. Uma coisa é saber com antecedência que você vai enfrentar calor. Outra coisa é sentir o corpo inteiro pegando fogo, fervendo a cada passada. E aí é que a experiência, os muitos quilômetros já rodados, fazem diferença.

No último terço de prova, depois do quilômetro 15 (eram 21,4km no total), mais ou menos, vi muita gente passsando mal, desmaiada. Gente que certamente não respeitou o calor, nem os limites do próprio corpo. Já na largada de uma prova como foi a de domingo, com Sol forte batendo desde as 6h30 da matina, é preciso retraçar objetivos. O tempo que se tinha em mente para completar a prova muitas vezes vai pro espaço... Mais importante do que olhar para o relógio, é preciso resistir até o fim e terminar.

Confesso que achei que não ia dar para cruzar a linha de chegada desta vez. Lá pelo km 11 as pernas pesaram, faltou fôlego. Diminuí o ritmo, mas não foi suficiente. Pela primeira vez no meu currículo de corredora decidi andar numa prova. Não foi uma decisão por livre e espontânea vontade, exatamente... Decisão totalmente forçada pela circunstância. Era isso ou não chegar. Não foi fácil. Quem é competitivo sabe o quanto é duro abrir mão do relógio, abstrair. Ao mesmo tempo, é um peso que sai das costas (das pernas, na verdade). A partir dali, curti mais a prova, olhei mais para a bela paisagem (passamos por cima da ponte Rio-Niterói) e, melhor do que tudo, percebi que cruzar a linha de chegada, independente do tempo cravado no relógio, já seria uma belíssima vitória.

Andei cerca de 2 quilômetros na prova toda. Encontrei um amigo por volta do km 19 e ele me puxou até o final. Cruzei a linha correndo, no meu pior tempo (até a minha estreia na distância foi melhor). Mas vou dizer uma coisa: foi a melhor pior prova da minha vida.

Comentários | »

    Dora
    20/04/2011 15h01 Parabéns, Apa. Você foi sensacional. Depois quero ouvir o seu relato pessoalmente.

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